Monday, April 5, 2010
Friday, August 29, 2008
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Adaptação Humana
O corpo tem sido matéria de estudo e observação, um elemento que pode ser olhado de múltiplas perspectivas e enfoques. A manifestação do corpo perfaz uma (re) configuração de mudanças constantes, é cada vez mais dinâmico, evidenciado no seu uso, um suporte, uma linguagem, um tema, um conteúdo, etc. São estes corpos desfigurados, fragmentados, interrompidos, simples, individuais ou colectivos, corpos que tentam procurar características próprias. Ás varias experiências as quais somos submetidos desde o nascimento, tem uma importância fundamental na forma como nos molda a percepção e a personalidade. É uma prática sistemática, a exploração continua, a procura que nos permite descobrir um conhecimento quer exterior quer interior do nosso corpo. É um corpo sofredor, um corpo fustigado, uma pasta que se molda, com capacidade de tornar possível o impossível. O corpo sempre foi alvo temático dos artistas, a sua maleabilidade ajuda a (re) descobrir “novos/outros” caminhos imagináveis. Neste percurso de possibilidades, à noção de corpo surgem variantes poéticas do próprio processo de criação. Através da sua pressão diária, do facto de ser contemporâneo e como por consequência, activo, o corpo reflecte a sua elasticidade. São corpos que vem remeter-nos para uma realidade, da qual não somos máquinas produtoras de repetidos movimentos, mas sim, seres autónomos com capacidades anatómicas que evoluem. O trabalho não quer representar a beleza de um corpo, a sua pose ou a sua posição social, mas sim a sua dimensão enquanto corpo móvel e adaptável. É um corpo que não funciona apenas como algo autónomo, pode tornar-se colectivo e interagir com outros corpos. “ Alguém disse certa vez sobre o corpo, que ele é tudo á sua volta, mais sua ausência. Que o corpo é definido pelo que está dentro e o que esta fora dele”. Relacionar com a inevitabilidade, numa era em que o sistema de sociedades ocidentais que organizam os nossos actos, robotizando-os cada vez mais, reduzindo o espaço de acção de cada um, em que nos torna especializados em algo, deixando de parte as nossas acções e pensamentos livres.
O corpo como uma abordagem a partir daquilo que ele foi, do lugar a que pertenceu, que o definiu. Existe em cada corpo desaparecido um resíduo de permanência. O corpo só se torna ausente depois de ter sido uma presença. É um corpo concebido a partir do que não é corpo. A ausência como se o corpo só fosse permitido por um lapso efémero de existência. É um corpo com vontade de algo, desejo de contacto, desejo de superação, de encontro. Corpo como objecto de cobiça. O desejo é olhar, superfície onde o desejo se expande, se exprime. É traves do olhar que o corpo descobre outro corpo, deseja outros corpos. Corpos ao alcance de qualquer predador, que os persegue. O corpo deseja sair de si, imaterializar-se para se poder concentrar no seu objecto de desejo. Um corpo é um corpo, e esta evidência manifesta-se em qualquer fragmento colhido em qualquer circunstância. É impossível não olhar para um pedaço de corpo sem o apreender como se um todo se trate. O corpo é, por isso um corpo total, completo. É também ele um activo é um corpo que está presente, que ocupa vários espaços físicos, corpos que se desdobram numa multiplicidade infinita de apresentações. O corpo exibe sobre o espaço um determinado tipo de dominação, de presença, de actividade. Diminui esse espaço, aumenta o seu corpo. São corpos que transformam lugares, preenchem-nos, tornam-se dominadores. Um corpo que é forte, um corpo musculado, um corpo com visibilidade, um desejo de se mostrar, de se exibir. É um corpo treinavel, que se esforça quando solicitado. É, alias, um corpo sofrido, mas com uma manifestação de poder, com presença. O corpo forte é um corpo invasivo. A durabilidade desse corpo é perfeitamente inesperada. Um corpo doente, um corpo doloroso. A doença desse corpo reveste várias mascara, coloca termo a euforias, são corpos que albergam “doenças”, que contagiam outros corpos. A sua facilidade em alterar esse corpo, atravessá-lo, ultrapassando barreiras, demonstrando as suas fragilidades. A presença desse corpo é a sua imposição, é um corpo absolutamente presente, um corpo que não necessita de demonstrar nada para ser corpo. Um corpo presente é um corpo que está, um corpo duro, resistente, rugoso. É ele um corpo que habita o espaço, não só ele próprio, mas os espaços que pode percorrer graças a sua capacidade de mobilidade, aos seus olhos que mesmo parado, permitem viajar e ocupar espaço.